Segredos de uma alma escondida

12 de junho de 2013


São precisamente quatro horas da manhã, estou num beco escuro, no meio do nada...
"Bolas voltei a fazer asneiras!
Onde é que eu estou?
Tou?! Mana?!
Ai a minha mãe não pode saber disto... Ela morre se sabe o que se está a passar...
Eu tenho de arranjar forças, eu vou conseguir, eu vou conseguir ultrapassar isto!
Eu tenho de mudar a minha vida, eu não posso continuar com isto!"
-" Grabriel? Mano? O quê que se passa?!" - disse ela com voz enssonada e confusa
- "Isto nem sequer é viver!
Que vergonha Gabriel! Não tens juízo? Tens uma família que te adora porquê que te foste meter numa coisa destas?
Isto não é vida, isto é nada, nem nada é! Nada... É o que eu mereço depois de tudo...
Eu não trato ninguém em condições, um dia abraço toda a gente, no seguinte berro-lhes!" - estava cada vez mais furioso comigo mesmo, como é que tinha voltado àquilo?!
- "Gabriel? Tu estás bem?! Tu não dizes coisa com coisa! Oh não! Não! O quê que andas-te a fazer mano? Ai se a mãe sabe..." - a voz dela mudou completamente, estava a modos que abafada, arriscarei, desiludida...
-"Eu vou procurar ajuda... A mãe não pode saber! Não digas nada! A ninguém! Promete-me mana! promete!!" - gritava já
- " Wow wow! Tem lá calma! Se há alguém que tem aqui motivos para estar ao berros contigo sou eu, e não o estou a fazer!"
- "Desculpa, deculpa! Eu vou procurar ajuda... Vou, e é já. Não me procures maninha! Quando estiver bom outra vez apareço"
- "O quê? Não! Espera! Gabriel?! Grabriel......" - desliguei, isto tinha de mudar.

3 meses depois....
Estou numa clínica, estou bem, estou praticamente curado.
Não sei porquê mas deu-me uma vontade enorme de escrever para a minha mãe hoje, assim fiz.

3 dias depois.
Ding-dong, a campainha tocou e ela foi abrir.
-Boa tarde.
-Boa tarde. Deseja algo.
-A tua mãe está? - ela acenou a cabeça em sinal de aprovação - Podes ir chama-la?
Ela foi chama-la.
- Sim? Quem é?
- Boa tarde. Eu sou da clínica de reabilitação onde está, bem, estava, o seu filho.
- Estava? - disse já a ficar alterada
- Sim o seu filho estava praticamente curado de uma adição às drogas. Mas infelizmente, esta manhã deu-lhe uma embolia cerebral acompanhada de uma paragem cardíaca e ele não resistiu... Lamento muito. Ele deixou este envelope para si. - entregou-o
Ela pegou nele, começou a chorar desalmadamente, e ajoelhou-se, sem forças, desamparada, sem o seu menino.

A carta:
"Olá Mãe,
Sim sou eu, o teu filho, o Gabriel.
Não ainda não morri, estou desaparecido. Hei-de voltar, ou não...
Se não voltar quero que saibas que estou muito arrependido de tudo o que fiz, não há desculpa possível para tudo isto...
Eu meti-me numa alhada das boas, e duvido muito que agora consiga sair dela...
Cada vez mais, sou uma alma perdida, vazia, escondida, cheia de segredos, que ninguém sabia, nem tu mãe...
Agora tu sabes.
Mas apesar de tudo, quero que saibas que não houve um única momento em que não pensei em ti, mesmo quando estava sob o efeito... Mesmo dizendo coisas estúpidas, eu pensava em ti e no quanto te amo, mãe!
Continua com essa tua força! Com essa tua atitude perante a vida, sendo essa mulher maravilhosa que és!
Serás sempre o meu exemplo a seguir.
Eu estou bem, eu vou ficar bem. Ambos sabemos disso, de uma maneira ou de outra, eu vou ficar bem.
Nunca te esqueças que eu te amo
Beijos.
O teu anjo, Gabriel"



Desafio do blog da Inês =)

Este texto tem algumas coisas verídicas... Dia 9, fez anos que um primo morreu por estes motivos, já em fase de tratamento.
Foi um texto sentido.
E se não ganhar, já fico muito agradecida, pelo texto que pude escrever.

11 comentários:

  1. Chorei ao ler isto.
    Sinto muito pelo teu primo

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  2. oh meu Deus , arrepiei-me e chorei ao ler isto . . .
    Sinto pelo teu primo , muito mesmo :c

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  3. É um texto muito bonito e vieram me as lágrimas aos olhos...

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  4. Daniela: Sim, se leres as letras pequeninas percebes que é meu =)

    Logo publico =)

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  5. Perfeição de texto! Adorei, muito sentimento.

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  6. A sério, mesmo. Se eu fosse realizador comprava-te já esta história! Apesar de, como dizes, ser baseada em factos verídicos, descreveste-a muito bem! Continua a escrever assim!

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  7. Obrigada pela participação, Nea!

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